AULA INAUGURAL | Genealogia das Comoções Públicas: Choque, Mobilização e Dessensibilização

Julho 27, 2021
aula inaugural

 

No dia 09 de agosto, segunda-feira, às 18 horas, o Programa de Pós-Graduação em Comunicação (PPGCOM) da Universidade Federal de Ouro Preto realizará a Aula Inaugural “Genealogia das Comoções Públicas: Choque, Mobilização e Dessensibilização”, ministrada pelo Prof. Dr. João Freire Filho (UFRJ), no canal do YouTube do PPGCOM-UFOP.

Genealogia das Comoções Públicas: Choque, Mobilização e Dessensibilização

A palavra comoção foi introduzida, em nosso idioma, no início do século XVII. Provinha do latim commotio, substantivo derivado de commovere, cujo significado estrito era pôr alguém em movimento ou agitar alguma coisa. O verbo designava, sobretudo, mobilizações, impulsos e deslocamentos relacionados com o dinamismo das paixões, dos rituais sagrados, da rebelião e do combate militar. 

As cenas prototípicas da comoção retratam o ritmo afobado da atividade mental e a mobilidade palpável do corpo (vibrações; arrebatamentos; sobressaltos; ataques; disparadas), realçando a presteza para movimentar-se ou ser movido quando exposto a constrangimentos e golpes diversos — catástrofes, ultrajes à honra, ameaças à integridade física, prenúncios de invasão territorial... Circunstâncias desafiadoras que surpreendiam as pessoas, punham as cidades em alvoroço e deixavam os exércitos em estado de alerta. 

A pessoa que sofria a comoção se mostrava suscetível a influências ou forças externas, concebidas como fatores de desequilíbrio. Traços do passado etimológico persistem nas definições do vocábulo em língua portuguesa. Nosso idioma preservou o vínculo primordial da comoção com o campo semântico do movimento, explorando sua polivalência para representar os diferentes abalos (tanto no sentido concreto e físico quanto moral ou psicológico) provocados pela colisão dos corpos ou pelo choque dos acontecimentos. 

O século XIX forneceu os exemplos mais eloquentes desta versatilidade semântica. Nesta aula, recapitularemos, inicialmente, os múltiplos sentidos do termo comoção, construídos na medicina, na física, na filosofia e no direito — ou seja, nas distintas áreas do saber dedicadas à análise ou à normatização dos movimentos que constituíam a essência da vida corpórea, moral e política. Destacaremos, em seguida, a emergência de reflexões discrepantes sobre o papel do noticiário das aflições alheias na sensibilização ou no entorpecimento dos leitores. A discussão será baseada no exame da repercussão de um gravíssimo acidente ocorrido na cidade do Rio de Janeiro, em 18 de agosto de 1894. O objetivo da revisão histórica é oferecer subsídios para aprofundar o debate contemporâneo sobre o caráter efêmero, superficial ou seletivo das comoções públicas.


Sobre o palestrante

João Freire Filho é doutor em Literatura Brasileira pela PUC-Rio. Realizou pós-doutorado sênior no PPGCOM da UFMG. É bolsista de produtividade em pesquisa do CNPq (Nível 1D) e bolsista Cientista do Nosso Estado (CNE) da FAPERJ. Ministrou cursos como professor convidado nos programas de pós-graduação da UFBA, da PUC-RS, da UFMG, da UFSM e da UFRN. Recebeu o Prêmio Compós de orientador da melhor tese de doutorado, em 2011 e em 2018. Coordena o Núcleo de Estudos de Mídia, Emoções e Sociabilidade — NEMES (https://www.nemesufrj.com/), cadastrado no diretório de grupos de pesquisa do CNPq. Autor e organizador de diversos livros, dentre eles: Reinvenções da resistência juvenil: os estudos culturais e as micropolíticas do cotidiano (Mauad, 2007); A TV em transição: tendências de programação no Brasil e no mundo (Sulina, 2009); Ser feliz hoje: reflexões sobre o imperativo da felicidade (FGV, 2010); A promoção do capital humano: mídia, subjetividade e o novo espírito do capitalismo (Sulina, 2011 — com Maria das Graças Pinto Coelho); Celebridades no século XXI: transformações no estatuto da fama (Sulina, 2014 — com Vera França e Lígia Lana).


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